segunda-feira, setembro 25, 2006

O Primeiro de Janeiro

Candidatura da Universidade tremida

O responsável pelo o gabinete de candidatura a Património Mundial da Unesco da Universidade de Coimbra não poupa a cidade com críticas contundentes. Nuno Ribeiro Lopes acusa Coimbra de desleixo e atropelos urbanísticos e a Universidade de estar mumificada.

Paula Alexandra Almeida

Considerando a candidatura de Coimbra “particular e bastante complexa”, Nuno Ribeiro Lopes, afirma que o ela é “um grande desafio para a cidade”. É que o estatuto de Património Mundial “é um extremo que premeia a diferença no mundo global, premeia o que é autêntico, que não é de plástico”. E, portanto, “a partir do momento em que há uma comunidade que se quer candidatar ao estatuto passa a ter que mudar a forma de encarar a sua actuação do dia a dia”.
Este é o desafio que se põe à Universidade e a Coimbra de uma forma geral “porque não é possível fazer a candidatura sem a cidade e as suas instituições”, assegura o arquitecto. “Esqueçamos a ideia de que a Universidade é responsável pela candidatura. A Universidade coordena a candidatura de um bem mas essa só poderá ser possível se os cidadãos a apoiarem”.
Daí que a candidatura só seja viável se tanto a cidade como a própria Universidade mudarem de atitude. “Desafio todos a passearem pela Alta universitária à noite e a verem o mau aspecto que tem”, referiu ainda Nuno Ribeiro Lopes. A própria Universidade, pelos edifícios que tem, “é inóspita e intimida quem não é aluno ou professor”. O próprio cidadão de Coimbra “é também intimidado e não lhe interessa muito lá ir”.
Será então preciso levar a cidade à Alta universitária mas não sem antes alterar o seu “aspecto dramático”. E os automóveis têm que ser os primeiros a sair. “Não queiram candidatar isto, por amor de Deus”, apela o arquitecto referindo-se aos milhares de carros que diariamente invadem o espaço universitário. “Porque acontece o que aconteceu em Santarém. O homem da Unesco vem cá e atira-se da ponte abaixo. Foge!”.

Desrespeito total
Mas à parte esta questão que é fundamental para o processo, “a Universidade tem que se confrontar com a sua própria decadência”, afirma ainda Nuno Ribeiro Lopes. Segundo o responsável pelo gabinete de candidatura à Unesco, a Universidade fechou-se em si mesma “chorando glórias passadas”. Daí que esta questão da candidatura seja “o momento certo para descobrir aquilo que, num passado mais recente, foi feito”, afirmou referindo-se à intervenção do Estado Novo, “e para reflectir o que é que queremos para o futuro”.
Para o arquitecto, a candidatura da Universidade “é o motivo que será capaz de agregar a cidade em torno de um projecto que envolve a sua própria recuperação”. Porque, “ao contrário de outras cidades que foram à procura de meios para valorizar o seu passado, a sua identidade, Coimbra desperdiçou tempo, perdeu centralidade e a própria Universidade foi ultrapassada”. Está portanto, na altura de reflectir “a sua decadência”.
E isto vê-se, assegura, todos os dias “quando se passeia na Alta e se olha para o chão e só se vê lixo, só se vê grafitis e só se vê um desrespeito total em relação aquilo que é um bem nacional e que possa ser mundial”.


Exposição
Alta entre vistas
Até 9 de Novembro, no Museu Antropológico, os conimbricenses podem ver os projectos de arquitectura na origem da candidatura a Património Mundial da Unesco. São nove e incluem a requalificação do Pateo das Escolas e do edifício da Associação Académica de Coimbra, bem como a construção do parque de estacionamento no Largo D. Dinis e do novo Centro de Informação e Divulgação da Universidade de Coimbra, da autoria de Gonçalo Byrne; a nova Biblioteca da Faculdade de Direito, a instalar na actual Faculdade de Farmácia, concebida por Álvaro Siza Vieira; a requalificação do Laboratório Chimico e do Teatro Paulo Quintela e a reconversão da Casa das Caldeiras, de João Mendes Ribeiro; e a requalificação do pátio do Departamento de Física e Química, da Faculdade de Ciências e Tecnologia, por Victor Mestre.

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