quarta-feira, maio 23, 2007

Obra analisa o papel dos jornais no Verão quente de 1975



Com apresentação do jornalista da RTP, Carlos Daniel, as Edições MinervaCoimbra promoveram o lançamento do livro “Os jornais como actores políticos. O Diário de Notícias, Expresso e Jornal Novo no Verão quente de 1975”, da autoria do jornalista e professor universitário João Figueira.

Salientando o papel pedagógico da obra, “uma obra bastante interessante que tem a felicidade de cruzar história e jornalismo”, Carlos Daniel recordou aos presentes que se fala, no livro de João Figueira, “de um tempo diferente”, como o autor destaca na conclusão. E “esta é a ideia principal que vale a pena sublinhar”, referiu.





Há 30 anos, o exercício do jornalismo e da política, em Portugal, era uma espécie de espaço Schengen, no qual uns e outros circulavam e se exprimiam sem problemas de identidade. Era um tempo em que a política estava em toda a parte.

“Aquele jornalismo é, felizmente, muito diferente do que se pratica hoje, se calhar, fatalmente diferente em função da realidade histórica que então se vivia”, afirmou Carlos Daniel. “Acredito que quando se olha para estas histórias, algumas parecem quase anedóticas. Imaginar que o gabinete do então primeiro ministro Vasco Gonçalves pudesse escrever para um jornal a agradecer a honestidade revolucionária dos jornalistas que deixaram de publicar um documento, é algo que nos parece hoje absolutamente inverosímil e reprovável, ao mesmo tempo”, sublinhou.






Mas “era um outro tempo em que as coisas sucediam a uma velocidade vertiginosa e quem não o viveu tem aqui uma excelente oportunidade para aprender”. Até porque, continuou, “em poucos momentos a história do país se confundiu tanto com a história do jornalismo, como durante este período do Verão quente de 1975 em que “a inter-influência chega a ser bastante grande”.

Quanto à escolha dos três jornais é claro, ao longo da obra, que estes permitem ter três visões diferentes do que era aquela realidade, já que “funcionaram em campos distintos mas, do ponto de vista da investigação, complementares”. O Diário de Notícias, recorde-se, era visto como muito próximo da extrema-esquerda, o Expresso de centro-direita e o Jornal Novo como assumindo o ideário socialista.





Carlos Daniel destacou ainda as entrevistas que o autor fez aos então directores dos três jornais — Francisco Pinto Balsemão do Expresso, Luís de Barros do DN e Artur Portela Filho do Jornal Novo —, levando-os a olhar o que foram muitas das opções que então se fizeram e as consequências que daí poderão ter surgido.

“É um dos momentos mais interessantes do livro que coloca os intervenientes ao espelho da história”, afirmou, acrescentando também que “é fundamental tentar perceber que há uma herança que ficou para o jornalismo de hoje”.





Para Carlos Daniel, “alguém, algum dia, teria que perceber que a desgovernamentalização dos media públicos era essencial para a sua sobrevivência e credibilidade”. Hoje, assegurou, “vale a pena pensar num jornalismo mais equidistante, que não perca a isenção, que não perca a capacidade crítica e que não tenha medo de ter um sensibilidade ao nível da opinião para um lado ou para outro. Vale a pena, quando se lê um jornal que tem uma pluralidade de opiniões mas sabendo que na base das opções editoriais estão sobretudo critérios jornalísticos”.




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