sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Sem Repúblicas Coimbra não era Coimbra


“Um património chamado Repúblicas” foi o tema da última Terça-Feira de Minerva, inserida no ciclo “Coimbra – Uma candidatura a Património Mundial”, iniciado em Setembro pela Livraria Minerva em colaboração com o Rotary Club de Coimbra Santa Clara. Os convidados desta sessão foram Teresa Carreiro, autora do livro “Viver numa República de Estudantes em Coimbra”, mas também os repúblicos José Luís Pio Abreu (Palácio da Loucura), Manuel da Costa (Baco) e Décio de Sousa e Rui Namorado (Pyn-Guyns).

Apesar dos riscos que correm de perder a sua identidade, caracterização e passagem de testemunho entre gerações, as Repúblicas de Coimbra são ainda, para muitos, um património de afectos. Mas há outro tipo de patrimónios que estão interligados com as Repúblicas. São eles, segundo Teresa Carreiro, “um património material, um património simbólico e também o património que representa a herança do papel que as Repúblicas tiveram nas transformações políticas e sociais do país”.

Espaços encantatórios, em completa oposição ao mundo real, eram, as Repúblicas eram, na década de 60, espaços de natureza sociabilística e convivialidade que caracterizavam uma certa sub-cultura juvenil, onde apareciam “as partidas, as brincadeiras, a paródia, os ‘bruás’ – onomatopeia que significa barulho e alegria – e uma certa liberdade de movimentos” que eram permitidos aos estudantes que habitavam estas casas na época e que lhes permitiam uma vivência única e irrepetível, que marcou gerações para a vida.



Antigo repúblico dos Pyn-Guyns, Décio de Sousa salientou o papel importante das Repúblicas na manutenção e respeito pela tradição académica e Rui Namorado, da mesma casa, lembrou a década de 60 em que havia entre os repúblicos a capacidade de olhar para o outro. A vida numa República “ensinava que cada um de nós não era tão importante quanto isso. Humanizava as coisas, dava-nos a capacidade de partilhar”, recordou.

José Luís Pio Abreu, por seu turno, recordou o ambiente do Palácio da Loucura, casa que sempre teve uma forte tradição musical e de onde saíram grupos como a Brigada Victor Jara ou o Gefac. Mas sobretudo a República “era, de facto, uma família notável”, assegurou. Mais. “Coimbra não seria Coimbra sem as Repúblicas”, afirmou. “Sem o conjunto alargado das Repúblicas, cada uma com uma identidade diferente, onde cada um também tinha uma identidade diferente, onde não havia unanimidade mas onde nos conseguíamos completar uns aos outros”. A questão que se coloca nos dias de hoje é, referiu, “como é que se vai poder recuperar essas identidades”.




Repúblico já na década de 70, Manuel Costa recordou também o “forte espírito de entreajuda, de solidariedade e de socialização”. Algo que hoje se perdeu, lamentou. Actualmente assiste-se a uma “crescente descaracterização das Repúblicas”, em que “as pessoas deixaram de conversar”, o que levou à perda “da amizade e a solidariedade”.

Segundo a reitoria da Universidade de Coimbra, as Repúblicas remontam ao século XIV, quando D. Dinis, por diploma régio de 1309, promovia a construção de casas na zona de Almedina, destinadas a estudantes, mediante pagamento de um aluguer. O montante seria fixado por uma comissão, expressamente nomeada pelo rei, constituída por estudantes e por “homens bons” da cidade. É assim que a partir de um tipo de alojamento comum, permitindo minimizar os encargos financeiros, viriam a surgir, por evolução, as actuais Repúblicas. Ainda hoje as casas caracterizam-se pela exaltação de valores universais que unem o passado ao presente: a vida em comunidade, a soberania e a democraticidade.



“D. João III e Júlio Henriques na história da Universidade de Coimbra” é o título da palestra a proferir por João Gouveia Monteiro, Pró-Reitor para a Cultura da Universidade de Coimbra, e que encerra o ciclo “Coimbra - uma candidatura a património mundial”, no próximo dia 13 de Fevereiro, pelas 20 horas, no Hotel D. Luís, numa reunião de jantar do Rotary Club de Coimbra Santa Clara.

O preço do jantar é de 20 euros por pessoa e as inscrições deverão ser feitas até às 17.00 horas do próximo dia 12 de Fevereiro através dos telefones: 919485356, ou 239 701117.

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