domingo, junho 11, 2006

"Quites, Detalhes e Puyazos" n'O Primeiro de Janeiro

Edições MinervaCoimbra editam livro de crónicas taurinas

As culpas da afición

São 36 crónicas, publicadas no jornal «Farpas», e que agora surgem reunidas em livro. Nelas João Cortesão analisa à lupa o «mundillo» português, com sentido de humor, mas imputando a cada um dos actores da Festa a sua dose de culpa na crise da mesma.

Paula Alexandra Almeida

Em todas as crónicas de «Quites, Detalhes e Puyasos», chama particular atenção o subtítulo. Usando variações de tom e de grau em torno do substantivo culpa, João Cortesão dá conta do seu posicionamento perante os vários grupos que contribuem para a Festa e a quota-parte de responsabilidade que, na sua opinião de aficionado (e também ele ex-forcado, ex-cavaleiro e ex-apoderado) julga existir em cada desses intervenientes.
São vários os exemplos: mea culpazinha (Aficionadas); mea culpa e mea (Aficionados); culpa e mea (Empresários); grandes culpas (Figueira da Foz versus Sr. Manuel Gonçalves); mea culpa, mea culpa, mea culpa… Ámen (Igreja); tanta culpa (Misericórdias, autarquias e sociedades privadas proprietárias de praças de toiros); mea culpa, sem desculpas (Políticos); alguma culpa (Amadores); quase sem culpas (Forcados); culpas a cores e a preto e branco (Fotógrafos taurinos); completamente isentos de culpa (Campinos). Nem as moscas escapam à crítica já que, por mais estranho que possa parecer, também têm a sua culpa.
Segundo garante João Cortesão, “a crise na Festa é cíclica”, e tem a ver com o facto de actualmente não existir a chamada “figura de época”. Ou seja, alguém que chame o público e encha as praças. Mesmo apesar de, garante, “haver bons toureiros em Portugal”.
Só que actualmente, afirma João Cortesão, “não há apoderados que cuidem da imagem dos toureiros convenientemente”. E a este propósito refere o exemplo da imprensa espanhola, principalmente a “cor-de-rosa” ou de coração, onde todas as semanas saem notícias sobre os toureiros e respectivas mulher ou namoradas.
Em Portugal, pelo contrário, não há “picante”, afirma. É que, assegura, “numa praça de toiros cheia está provado que o número de grandes aficionados nunca ultrapassam os 30 por cento. Depois há os aficionados, simples, que vão ao toiro umas vezes mais outras menos e que são também 30%. E depois há os outros 40%, que são quem faz ganhar dinheiro, e que são o grande público, que se calhar se souberem do caso de um toureiro com uma cantora vão espreitar”.

----------------------------------

Livro
Amigos comentam
Facto curioso no livro de João Cortesão são os vários comentários de amigos e aficionados, alguns nomes bem conhecidos no mundo taurino. No final de cada crónica, todas elas ilustradas por Gonçalo Baptista de Almeida, encontram-se pequenos textos de, entre outros, José Cid, Duarte Nuno Vieira, o empresário Manuel Gonçalves, o forcado Simão Comenda, o ganadeiro David Ribeiro Telles e um dos nomes maiores do toureio espanhol, Angel Peralta. João Cortesão foi forcado, cavaleiro amador, apoderado e crítico taurino.

Sem comentários: