domingo, junho 25, 2006

Pintores consagrados na Galeria Minerva


A Galeria Minerva tem patente uma exposição colectiva de Pintura com alguns dos artistas mais consagrados de Coimbra.

A inauguração decorreu ontem e contou com a presença de alguns dos pintores, familiares e amigos.








Além do jovem João Berardo, participam na mostra Lúcia Maia, Mário Silva, Pedro Olayo (Filho), Pinho Dinis, Rui Cunha, Santiago Ribeiro, Vasco Berardo e Zé Penicheiro.


João Berardo

Lúcia Maia

Mário Silva

Pedro Olayo (Filho)

Pinho Dinis

Rui Cunha

Santiago Ribeiro

Vasco Berardo

Zé Penicheiro

A exposição pode ser visitada de segunda a sábado, das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 20h00, na Rua de Macau 52, Bairro Norton de Matos, Coimbra.

quinta-feira, junho 22, 2006

ESTÓRIAS que fazem a história DE UMA FARMÁCIA

++++ ADIADO PARA SETEMBRO ++++
(por motivos que se prendem com a organização do XX Aniversário da Unimed)



11 de Julho 2006 – 3ª-feira
SALÃO ÁRABE do Palácio da Bolsa – PORTO

21:30H/ 22:00H – Lançamento do Livro ESTÓRIAS que fazem a história DE UMA FARMÁCIA de Manuela Sinde Filipe das Edições MinervaCoimbra, que será apresentado pela Doutora Ana Paula Arnaut, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra



Seguem-se:
Sessão de Leitura/Poesia (com textos e interlocutores a denominar)
Serviço de Cocktail
Sesssão de Fados e Guitarradas Grupo de 4 a 5 fadistas, já escolhidos, e que performem o Fado no seu contexto global, mas com alguns, caracteristicamente interpretados à “moda da Invicta”


** Lançamento inserido no XX ANIVERSÁRIO UNIMED - "20 anos – a saúde em boas mãos 1986-2006"

quarta-feira, junho 21, 2006

Lançamento MinervaCoimbra




Miguel Barbosa nasceu a 23 de Novembro de 1925, em Lisboa.

Licenciado em Ciências Económicas e Financeiras pela Universidade de Lisboa, é escritor, pintor, dramaturgo e poeta. Em 1955 edita o seu primeiro livro “Retalhos da Vida”, que numa boa parte é retalhado pela censura oficial então vigente, conforme despacho publicado no livro “A Política de Informação do Regime Fascista”, 2.º vol. (1980). Em 1962 a RTP (Radiotelevisão Portuguesa) apresenta as suas peças “Uma Semana em Madrid” com encenação de Artur Ramos e “Muro Alto” e “O Segredo dos Springfields” encenados por Pedro Martins que, em 1963, encena para a mesma RTP a peça “Xeque-Mate”, mais tarde publicada em livro. Em 1967 tentativas de representar “O Palheiro” no Teatro Experimental do Porto e no Teatro Nacional de D. Maria II são proibidas. Mais tarde “O Piquenique” é apresentado por teatros universitários com encenação de Jorge Listopad, Carmen Gonzalez e Mário Pinho. Em 1972 “O Palheiro”, com encenação de Fernando Muralha, é apresentado pelo grupo universitário Luís de Queiroz da Faculdade de Economia de Piracicaba, Brasil.

Neste mesmo ano obtém o 1.º Prémio do Festival do Teatro Maria Teresa Alves Viana nas comemorações da fundação da cidade de Penápolis (Brasil). Em 1973 “O Palheiro”, com o título de “Os Profetas da Palha”, é subsidiado pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e apresentado pelo grupo Euclides da Cunha, de S. José de Rio de Piracuba, Analândia, também com encenação de Fernando Muralha. “O Insecticida”, apesar de proibido pela censura, é transmitido pela ex-Emissora Nacional em francês como mostra do moderno teatro português. Em 1974 o teatro de Miguel Barbosa serve de tese de licenciatura a Grace Bodhaine e Susan Castilho na Universidade de Los Angeles, UCLA, EUA. “O Piquenique” é apresentado por um grupo universitário de Alcazar de San Juan, em Ciudad Real e Madrid, com encenação de José Cerrato. O Taller de Teatro de Barcelona estreia “Los Profetas de la Paja” com encenação de Antonio Joven e Antonio Puigrós.

Em 1975 textos seus em inglês são utilizados por um pastor protestante, John Norbutt, na recuperação de drogados num gueto de Bronx, em Nova Iorque. Susan Shaffer apresenta a tese de licenciatura na Universidade de Los Angeles, California, UCLA, EUA, sobre o teatro de Miguel Barbosa. A peça “Os Carnívoros” é apresentada pelo grupo de A Tabaqueira e “O Insecticida” pelo TNT (Teatro do Nosso Tempo), ambas encenadas por Jacinto Ramos.

A representação de “O Insecticida” é proibida em Barcelona quando se encontrava nos ensaios preliminares. “O Insecticida” é representado na Alemanha em Frankfurt e Dusseldorf pelo grupo G.E.T.I.. “O Palheiro” é representado pelos grupos Sociedade Recreativa e Dramática Eborense, Casa do Povo de Cabrela, Grupo de Teatro Amador do Casino Afifense e pelo Grupo de Intervenção Teatral de Urca (Abrunheira), Sintra. Em 1976 é representado pelo Grupo Desportivo do Porto Santo, Grupo Dramático Musical Flôr de Infesta, Centro Cultural dos Bombeiros Voluntários (Vila Real de Santo António), GITU - Grupo de Teatro do Sobral da Ceira, TUCS - Teatro Universitário de Campos Sales, Brasil, com o apoio da Secretaria da Cultura de São Paulo, e VANTA - Vanguarda Teatral Apucarense, Apucarana, São Paulo.

Em 1977 é publicada a versão teatral de “Irineu do Morro” pela Contra-Vento, com capa de Lud, e editada a peça “Como os Ratos Destruíram Nova Iorque” pela Univerisdade de Sacramento, Califórnia, EUA. Em 1984 tentativas de representar “O Insecticida” são frustradas pela censura no Brasil. Em 1986 o grupo de teatro Apucarense representa “O Palheiro” em Lisboa e Coimbra com encenação de João Jorge.

O teatro de Miguel Barbosa é tema da tese de licenciatura de Sebastiana Fadda, na Universidade de Milão, Itália. Em 1992 “O Insecticida” é apresentado num festival de teatro organizado pela Mairie de Paris na sala Matis, pelo J-3, com encenação de Serge Farkas. No mesmo ano o grupo Lambe-Lambe do Rio de Janeiro representa “O Palheiro” num festival de teatro no Paraná. A peça “Rusty Brown em Lisboa” é representada em Lisboa pelo grupo Os Sátiros, no Ritz Club, com encenação de Rudolfo Garcia e Ivan Cabral.

Ganhou o Prémio de Poesia “Moulin de L’Ecluse”, França, 1994, o Prémio Medalha Grand’Or da Société Le Mérite, Paris, 1995, a Coppa D’Argento “Abraham Lincoln” da Accademia Internazionale de Marzocco de Florença e o Prémio Sennato Della Republica Italana da Accademia Toscana “Il Machiavello”, 1995, o 2.º Prémio de Poesia Moderna “Paul Baudenon” dos VI Jogos Florais da Aquitânia, Bordéus, 1995, o Prémio Coppa Elite “Europa Duemila” da Accademia Italiana “Gli Etruschi”, Livorno, Itália, 1995, o Prémio Speciale do Prémio Nazionale di Poesia “Maria Cumani Quasímodo”, Itália, 1996, e o Prémio UBE – União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro, 2005, Internacional, pelo conjunto da sua obra.

Usa o pseudónimo de Rusty Brown nos vários romances policiais que faz sair. Julie Brooksbank, da Universidade de Birmingham, Inglaterra, faz tese de licenciatura sobra a sua literatura policial.

Usa também o pseudónimo de J. Penha Brava como romancista e novelista.

A sua biografia pode ser consultada em várias publicações, tais como: International Authors and Writers Whos’Who, 1976 e 1977, ed. Melrose Press, Inglaterra; Men of Achievement, 1976 e 1979, Ed. International Biographical Center, Cambrige, Inglaterra; Whos’Who in Europe, 1981, Ed. Servi-Tech, Bruxelas, Bélgica; Dictionary of International Biography, 1976/1979, Ed. Grand Rivers Book, Inglaterra; Who’s Who in the World, 1978 e 1979, Ed. Marquis Inc., Chicago, Illinois, USA; Para o Estudo do Teatro em Portugal, 1964, Ed. Fernando Mendonça, Assis, Brasil (1971); Mester (Revista do Departamento Português e Espanhol), Maio/1978, Ed. Universidade de Los Angeles, California, UCLA, USA; Espasa-Calpe, 1968/1979, Barcelona, Espanha; Grande Dicionário da Literatura e de Teorias Literárias (direcção de João José Cochofel), 1977, Ed. Dr. Luiz Francisco Rebello; La Côte des Arts, 1983, Ed. De la Côte de Arts, Marselha, França e L’Annuaire des Arts, 1984, Ed. Denoèl, Paris, França.

É membro e segundo secretário do Instituto de Sintra, da Academia de Lutèce (Paris) e de Honra dos Artistas de França (St. Étienne). É, ainda, membro correspondente do Grande Prémio da Europa de Artes e Letras do Conselho da Europa e da Société dês Poètes et Artistes de France e pertence como membro do Conselho Fiscal ao Grupo dos Amigos do Museu de Arqueologia de Lisboa. É também Membro Correspondente da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, Brasil.


levou consigo o mar
na algibeira remendada das calças
e uma vírgula de protesto
escorrendo sangue de óleo pela cara
afinal de que se queixava?

Miguel Barbosa

Colectiva de Pintura na Galeria Minerva

A Galeria Minerva inaugura no próximo sábado, dia 24 de Junho, pelas 17h30, uma exposição colectiva de Pintura de João Berardo, Lúcia Maia, Mário Silva, Pedro Olayo (Filho), Pinho Dinis, Rui Cunha, Santiago Ribeiro, Vasco Berardo e Zé Penicheiro.

A exposição pode ser visitada de segunda a sábado, das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 20h00, na Rua de Macau 52, Bairro Norton de Matos, Coimbra.

segunda-feira, junho 19, 2006

A imprensa sempre visou formar opinião


Imprensa, opinião pública e censura são expressões chave do último livro de José Tengarrinha que consta de doze estudos sobre história do jornalismo, de 1641 ao Estado Novo. Uma obra que aborda aspectos relevantes da evolução da opinião pública e da censura à imprensa em Portugal, e como a Imprensa visou a formação de uma opinião favorável a determinados objectivos políticos.
Paula Alexandra Almeida

«Imprensa e Opinião Pública em Portugal», da autoria de José Tengarrinha, editado pela MinervaCoimbra, é fruto de “uma investigação séria e qualificada de alguém a quem a história da imprensa muito deve”, afirmou na apresentação da obra Mário Mesquita, jornalista, professor universitário e coordenador da Colecção Minerva Ciências da Comunicação, na qual esta obra se integra.
O pioneirismo da obra de José Tengarrinha prende-se muito com o facto de as ciências da comunicação terem começado a desenvolver-se em Portugal muito em torno da perspectiva científica das ciências da linguagem, tendo a história sido marginalizada, e, por outro lado, os historiadores terem sempre encarado o jornalismo como um tema menor. O livro agora editado preenche as várias lacunas que existem.
Dos doze estudos que o constituem seis visam sobretudo a imprensa, desde o surgimento dos periódicos no início do século XVII até à imprensa nas dinâmicas da sociedade oitocentista. Quatro estudos centram-se de forma explícita na problemática da opinião pública, culminando com a análise da imprensa e opinião pública no Estado Novo. E, finalmente, os dois capítulos restantes incidem sobre as instituições e a acção da censura, naquela que é, para Mário Mesquita, “a primeira visão de conjunto da censura à imprensa em Portugal, abarcando o período que vai das Ordenações Filipinas até ao fim do salazarismo”.
José Tengarrinha descreve “de forma clara, concisa e contextualizada, os institutos e os mecanismos de censura à imprensa”, referiu ainda Mário Mesquita, que enaltece o valor pedagógico que a obra possui, “com vista à plena compreensão de sucessivas ordens censórias ao longo da História de Portugal”.
No final do livro, aliás, José Tengarrinha disponibiliza vários elementos de pesquisa que “poderão ser úteis para os estudiosos da imprensa portuguesa”, incluindo fichas dos vários jornais nacionais que eram editados até 1974 e a análise de “uma importante obra inédita sobre o jornalismo português. O «Dicionário Jornalístico Português» de Augusto Xavier da Silva Pereira”.

Três questões teóricas e metodológicas
Afirmar e tentar provar que os sistemas comunicacionais só ganham dimensão quando em relação com situações e espaços concretos ao longo da evolução das sociedades, isto é, em quadros históricos concretos, foi o grande objectivo deste trabalho. Para o concretizar, José Tengarrinha partiu de três questões teóricas e metodológicas: em primeiro lugar o que é opinião pública, em segundo qual é, em cada momento histórico, a base social da opinião pública e, em terceiro, qual o papel da opinião pública como agente, ou factor, histórico.
“Antes mesmo da formação da opinião pública em Portugal – que constitui o tema do capítulo de abertura – não deveríamos deixar de considerar como, desde tempos recuados, a imprensa visou formar opinião favorável a determinados objectivos políticos, ainda que em círculos limitados da sociedade”, afirma José Tengarrinha. “Neste caso, não se tratava da formação complexa de «espaço de opinião», onde livremente se confrontassem ideias, mas da tentativa de criação de «bloco de opinião nacional» ao serviço de interesses dos governantes”.
É precisamente o que se pode observar com a fundação do primeiro jornal português, recorda, “que procura desenvolver uma «corrente de opinião» favorável à Restauração, contra a que os castelhanos tentavam promover, ou, em 1809, quando o objectivo do Governo era levantar o País contra os invasores franceses”. Também na crise de 1890, salienta ainda o historiador, “são intuitos de defesa da pátria os que movem a imprensa, embora com a diferença fundamental de, então, se tratar de um espaço público autónomo relativamente ao poder”.
A obra aborda a formação da opinião pública na imprensa portuguesa durante o longo período que vai desde 1641 ao Estado Novo, já que para José Tengarrinha “a compreensão destes desenvolvimentos exigia previamente uma visão global, simultaneamente informativa e interpretativa, do quadro censório das folhas informativas, desde as origens em 1627 até ao 25 de Abril de 1974”. E apesar de “ainda hoje vermos como a influência das correntes de opinião sobre a natureza do poder político é muito limitada”, para o autor a imprensa foi sempre, ao longo da história contemporânea, “um dos principais factores de formação da opinião pública crítica”. Processo que, afirma José Tengarrinha, “tem vindo a ser perturbado, quando não adulterado, pelos diversificados e sofisticados meios utilizados pelos diferentes poderes”.
Neste momento em Portugal, como em todo o mundo, salienta José Tengarrinha, “a relação entre o espaço público mediatizado, a sociedade de cidadãos livres, os diferentes poderes dominantes na sociedade e o Estado encontra-se, seguramente, numa das fases mais críticas da história contemporânea”. Para o historiador, “o que foi no passado factor de libertação social e fundamento das sociedades democráticas poderá estar a transformar-se num factor de perversão e corrosão da própria ordem democrática”, o que coloca a necessidade de uma profunda e urgente reflexão.

Dois tipos de opinião pública
José Tengarrinha distingue dois tipos de opinião pública: a oculta e a expressa através dos intervenientes sociais. “A opinião pública oculta é aquela que não se manifesta a não ser, às vezes, quando vota. E deixa todos muito surpreendidos porque nem mesmo em sondagens de opinião essa opinião pública aparece. Aparece geralmente nos que não têm opinião e é, muitas vezes, a que dita verdadeiramente os resultados eleitorais”, afirma. “Nós julgamos o todo pela parte que é visível, mas não é. A parte que é visível é a dos intervenientes, a dos protestos na rua, a dos artigos nos jornais. Essa é a opinião pública dos intervenientes. A visível. Mas há uma massa maior que constitui a opinião pública oculta e que acaba por ditar o rumo da sociedade”.

Preocupações mantêm-se ao longo dos séculos
O capítulo sobre os diversos regimes de censura, desde 1627 até 1974, foi, segundo José Tengarrinha, um trabalho muito duro e prolongado. Com ele o autor pretendeu fundamentalmente mostrar que “é nesta relação de poderes vários com a sociedade e com o Estado que os regimes censórios devem ser analisados. Não numa perspectiva meramente de citação de artigos ou normas censórias, mas com uma interpretação interdisciplinar”.
Esta visão global traz para a luz os principais momentos legais em que a actividade censória evoluiu, mas mais importante do que isso, tenta apreender quais as razões de fundo, as motivações, as coordenadas ideológicas, as finalidades políticas e os objectivos que estavam por detrás do poder ao promulgar determinada legislação. “Isso é que me preocupou mais porque permitiu distinguir nitidamente a forma como ao longo do tempo houve preocupações com a defesa do Estado em determinadas situações, sobretudo no Estado absoluto, com a defesa da doutrina, sobretudo no século XVIII, e com a defesa da sociedade, sobretudo no reinado de Dona Maria I e até chegar ao regime liberal”.
E só depois de ter detectado estas linhas principais que, “com maior ou menor incidência, foram atravessando a actividade censória ao longo da nossa história”, é que José Tengarrinha conclui como “o Estado Novo realiza uma síntese de tudo isto: é a defesa do Estado, é a defesa da doutrina, é a defesa da sociedade”.
Tal como no tempo de Dona Maria I quaisquer notícias que pudessem perturbar a vivência quotidiana e regular eram impedidas, também durante o Estado Novo se cortavam notícias, por exemplo, sobre mortes por cancro. “Ninguém morria de cancro – pudor que ainda hoje se mantém ao dizer-se morte por doença prolongada. Mas nessa altura era preciso preservar a saúde dos cidadãos portugueses”.
Outro exemplo é o de “um desafio de futebol em que o árbitro tinha uma má arbitragem e que os assistentes se revoltavam contra ele e chegavam ao ponto de lhe bater. Até isto era censurado porque era uma manifestação de instabilidade social”. Há, por isso, preocupações que, “embora incidindo sobre factos diferentes, se mantêm ao longo dos vários regimes”.

Censura para além da repressão
Segundo José Tengarrinha, e especificamente em relação ao Estado Novo, “as questões da censura têm sido vistas, a maior parte das vezes, no seu aspecto puramente repressivo, isto é, impeditivo da saída de determinada informação”. Mas aquilo que se pretende mostrar neste livro é que “a preocupação central do Estado Novo foi não apenas controlar a informação no aspecto de repressão, mas também controlá-la no aspecto de construção da opinião”.
E isso, afirma o autor, “julgo ter ficado claro quando faço uma longa relação dos jornais que eram publicados em Portugal, das suas tendências políticas, e da forma como o Estado Novo pretendia influenciar a construção da opinião pública, não apenas nas cidades mais importantes mas por todo o País, através da produção torrencial de artigos e notícias emanadas do Secretariado Nacional de Informação e de outros órgãos, para que pudessem depois ser publicadas nesses jornais”.
Este aspecto construtivo da opinião dentro do Estado Novo “tem sido subalternizado em detrimento do aspecto mais espectacular e mais anedótico da estupidez dos censores, mas é ele que permite detectar as linhas ideológicas fundamentais do regime”, defende José Tengarrinha.
E está enganado quem pensa que este controlo e esta produção eram feitos de forma anárquica e descontrolada. “Eles sabiam muito bem o que pretendiam”, assegura. “Quando se vê que tipo de temas eram ordenados aos articulistas que desenvolvessem para serem distribuídos pelos jornais da província, para que locais da província e em que jornais, temos toda uma teia densíssima que nos conduz à compreensão da impressionante produção desses gabinetes”. Atingiam as centenas de artigos por mês “para contrariar a oculta trama desenvolvida nos bastidores do Estado Novo”, segundo alguns dos relatórios, actualmente na Torre do Tombo, analisados por José Tengarrinha. Eram relatórios feitos por homens do aparelho de Estado salazarista – e depois com Marcelo Caetano – que, andando pela província, analisavam a situação da imprensa portuguesa.
“Há frases nesses relatórios que são exemplares”, recorda. “Como aquela em que Marcelo Caetano refere que «o Estado moderno não pode ser conduzido eficientemente sem uma liderança autoritária, mas esta só é viável quando o povo tem a sensação de participar nela, ao menos pelo seu assentimento formal». É de uma limpidez extraordinária a função que pretendiam atribuir à opinião pública para a sustentação do regime”.
Tanto mais sendo certo que Portugal, ao contrário da Itália de Mussolini ou da Alemanha de Hitler, não dispunha de um partido de massas. A União Nacional era um partido de elite. “O próprio achatismo do Salazar nunca permitiria o seu contacto conspurcante com o povo”, afirma José Tengarrinha.
No livro, José Tengarrinha recorda uma «circular urgente» publicada em 1931 pela Direcção-Geral dos Serviços de Censura à Imprensa, com instruções para as suas delegações e enviado aos jornais – texto não divulgado e que reputa da “maior importância para o estudo do Estado Novo” –, na qual são retomadas as 19 directivas «que desde o início têm orientado esta Direcção-Geral nas suas relações com a Imprensa, esclarecendo sobre o justo conceito em que é tido o ‘direito de livre expressão de ideias’ que, entretanto, o bem público condiciona». No documento é denunciada «a influência deletéria que exercem sobre a opinião pública determinados jornais do País quer aplaudindo, ainda que indirecta ou veladamente, a violência e a desordem, a coberto de uma ideologia falseada, quer mantendo um mutismo culposo e absurdo em face de actos que a Nação repudia e cujas consequências só em lágrimas de sangue podem ser avaliadas». Assim, continua José Tengarrinha, o apoio ao regime devia ser demonstrado «de forma insofismável», ameaçando-se os jornais que não seguissem esta orientação. Tão bem definiram a estratégia do poder quanto à censura aos jornais que aquelas directivas se mantiveram até 1968 como guia ideológico da propaganda e da defesa do Estado Novo. Em Julho do ano seguinte, as «Instruções Gerais» da Direcção-Geral dos Serviços de Censura voltam a publicar os «Fins» da censura, as «publicações abrangidas» (isto é, que estavam sujeitas a censura prévia) e as anteriores «Directivas», finalizando com novas «Instruções» em que, de acordo com as directivas, estavam detalhadamente especificados os 23 tipos de informação que não eram permitidos.
A estratégia de difusão de textos de opinião abrangia inclusive as agências de informação que regularmente emitiam aqueles artigos para serem publicados por jornais de todo o País. E “só com a revolução democrática do 25 de Abril de 1974”, conclui José Tengarrinha, “terminou definitivamente a censura prévia e a arbitrária repressão administrativa à imprensa que marcaram quase permanentemente cerca de três séculos e meio da história portuguesa”.

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Quem é...
Professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, José Tengarrinha nasceu em Portimão, em 1932. Ganhou o Prémio da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto em 1962. Criou, dirigiu e leccionou mestrados, em Portugal, nas áreas da História Contemporânea, História Moderna, História do Brasil, História da Imprensa Periódica, História Regional e Local e Cultura e Formação Autárquica, tendo orientado, nessas áreas, numerosas teses de mestrado e doutoramento. Leccionou em cursos e seminários de doutoramento em universidades estrangeiras como Florença, Pescara, Bolonha, Paris VII, Nantes, Valladolid, Bilbao, Autónoma de Barcelona, Carlos III de Madrid, Sevilha, Canárias e École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, entre outras. Foi professor
visitante da Universidade de São Paulo para cursos de pós-graduação, em 1997.
Tem publicadas numerosas obras em Portugal, no domínio da História e das Ciências Sociais, com destaque para «Movimentos Populares Agrários em Portugal – 1750-1825» (tese de doutoramento), 2 vols., 1994, e «História do Governo Civil de Lisboa», 2 vols., 2002, e, no Brasil, «A Historiografia Portuguesa, Hoje», 1999, «Historiografia Luso-Brasileira Contemporânea», 1999, e «História de Portugal», 2ª ed. 2001. Da sua vasta bibliografia sobre a história da imprensa portuguesa refira-se «História da Imprensa Periódica Portuguesa», 2ª ed. 1989 e «Da Liberdade Mitificada à Liberdade Subvertida. Uma exploração no interior da repressão à imprensa periódica de 1820 a 1828», 1993.
Está actualmente a preparar uma nova versão, actualizada e alargada à actualidade, da História da Imprensa Periódica Portuguesa.

No das Artes das Letras d'O Primeiro de Janeiro, hoje

sábado, junho 17, 2006

terça-feira, junho 13, 2006

COVSEIRO DE MYRANDA



Numa iniciativa da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova e das Edições MinervaCoimbra, realizou-se no dia 3 de Junho, o lançamento do livro "COVSEIRO DE MYRANDA", de Edgard Panão, que decorreu no Salão Nobre da Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova. A apresentação foi feita pelo Padre Doutor Joaquim Cardoso Duarte.




domingo, junho 11, 2006

José Tengarrinha no DN

"Não receio o excesso de de opinião mas o silêncio"

Marina Almeida

José Tengarrinha
Historiador
Nasceu em Portimão em 1932
Doutorado em História, é autor de uma vasta bibliografia sobre a história da imprensa portuguesa



Jornalista (entre 1953 e 1962), foi chefe de redacção do Diário Ilustrado
Autor da única História da Imprensa Periódica Portuguesa (Caminho, 1989), José Tengarrinha prepara a nova edição desta "bíblia". Soube, por um alfarrabista, no lançamento do seu mais recente livro, que a primeira edição da obra alcança hoje valores "astronómicos"... O novo volume, que já baptizou de Nova História da Imprensa Periódica Portuguesa, começa nas origens da imprensa, em 1641, e prolonga-se até ao 25 de Abril de 1974. Deverá ser editado dentro de dois anos. Entretanto, o historiador ultima um outro livro, sobre política popular.

Na apresentação do seu livro Imprensa e Opinião Pública em Portugal, fez um alerta. Disse que estamos numa das fases mais críticas da história contemporânea em que se exige uma reflexão urgente. Porquê?
Os media e a consequente formação de um espaço público crítico foram uma base de sustentação indispensável à formação e ao desenvolvimento da sociedade democrática. Ao longo da nossa história, a formação do espaço democrático e da sociedade democrática é indissociável da formação desse espaço público crítico, onde os cidadãos podem debater ideias, confrontar posições, onde podem influenciar o poder. O que se tem assistido nos últimos anos, não só em Portugal como também no estrangeiro, é que a influência de poderes na sociedade (refiro-me a poderes de várias naturezas mas nomeadamente políticos) têm vindo a exercer condicionamentos e influências contrárias à liberdade com que a opinião pública se deve manifestar e afirmar na sociedade, o chamado espaço público crítico.

Tem a ver com a concentração dos media em grandes grupos?
Também tem a ver com isso e esse é um fenómeno que não tem sido suficientemente abordado. A concentração não permite a suficiente concorrência e uma suficiente libertação das ideias, causa condicionamentos cada vez maiores. Isto é um aspecto fundamental da sociedade dos nossos dias que exige uma reflexão aprofundada e medidas urgentes. São factores que estão a exercer uma corrosão e a adulterar o fundamento democrático da sociedade. Ou nós temos condições corajosamente para enfrentarestes problemas ou a sociedade democrática, conservando a sua fachada, no fundo é cada vez menos democrática.

A pluralidade dos que fazem opinião nos jornais é apenas aparente?
A pluralidade existe na realidade mas é cada vez mais condicionada e se não nos opusermos a esse condicionamento crescente, haverá uma fachada democrática mas a expressão livre das opiniões críticas será limitada. Não é fácil denunciar isto, poucas pessoas o fazem...

O que pode ser feito?
Tem que haver pressão, mas pressão no bom sentido. Esta pode ser feita pelos cidadãos, denunciando estes actos, mas também pela defesa do consumidor, pelas próprias instituições que têm responsabilidade de verificar normas éticas fundamentais dos media.

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) pela forma como foi constituída, a partir de uma lista do PS e PSD, e com uma cooptação pouco clara do seu presidente não o faz temer precisamente por essa falta de pluralidade?
Sim. Penso que falta um leque de pluralidade e esta não se esgota em dois partidos. Mal de nós se assim fosse, a democracia era pobre, era mesmo muito pobre. A organização de correntes de opinião através de partidos vários é uma forma estável de consolidar a democracia. Dos membros da ERC apenas conheço a Estrela Serrano, por quem tenho a maior consideração. Julgo no entanto que o regulador ainda está muito no princípio, na determinação dos objectivos e dos meios de que vai dispor.

Que visão tem sobre os blogues, a que muitos chamam o novo contrapoder?
Leio e acho muito interessante a possibilidade de expressarem opiniões que saem da esfera de controlo dos poderes instituídos.

E os fóruns das rádios?
Sim, tudo isso é muito interessante. Quando ligo a rádio e está a acontecer um fórum desses já não saio de lá e oiço normalmente até ao fim. Interessa-me muito ouvir a opinião do homem ou da mulher que normalmente não tem condições para se exprimir de outra maneira. Acredito que vai elucidar os outros radiouvintes e, eventualmente, influenciar o próprio poder.
Os jornais eram o sítio onde se expressavam as opiniões e se defrontava o poder. Agora deu-se a palavra às pessoas "comuns".

Esta abundância de opiniões não pode ter um efeito perverso?
Não. O que me preocuparia era a escassez, a ausência, as pessoas estarem mudas e a opinião pública não ter veículos de expressão. Todos os veículos de transmissão de opinião que possam ser feitos na sociedade são úteis. Não receio o excesso de opinião mas o excesso de silêncio.

Considera que a história da imprensa não tem sido muito estudada pelos historiadores. Encontra alguma explicação?
O jornalismo foi sempre considerado um género menor da literatura. Deve ser considerado na sua dignidade própria, como um meio de expressão literária importante.

O seu trabalho permite-lhe cruzar as suas duas facetas, de historiador e de ex-jornalista...
Sim, tive essa felicidade. Uma história de imprensa dificilmente será feita por alguém que não viveu a imprensa. Eu aproveitei o facto de ser licenciado em História, com o facto de ter tido uma rica e larga experiência jornalística e fiz o primei- ro balanço da história de imprensa para o Joel Serrão, no Dicionário de História de Portugal. Esse artigo constitui a génese de todos os meus estudos sobre a imprensa.

"Quites, Detalhes e Puyazos" n'O Primeiro de Janeiro

Edições MinervaCoimbra editam livro de crónicas taurinas

As culpas da afición

São 36 crónicas, publicadas no jornal «Farpas», e que agora surgem reunidas em livro. Nelas João Cortesão analisa à lupa o «mundillo» português, com sentido de humor, mas imputando a cada um dos actores da Festa a sua dose de culpa na crise da mesma.

Paula Alexandra Almeida

Em todas as crónicas de «Quites, Detalhes e Puyasos», chama particular atenção o subtítulo. Usando variações de tom e de grau em torno do substantivo culpa, João Cortesão dá conta do seu posicionamento perante os vários grupos que contribuem para a Festa e a quota-parte de responsabilidade que, na sua opinião de aficionado (e também ele ex-forcado, ex-cavaleiro e ex-apoderado) julga existir em cada desses intervenientes.
São vários os exemplos: mea culpazinha (Aficionadas); mea culpa e mea (Aficionados); culpa e mea (Empresários); grandes culpas (Figueira da Foz versus Sr. Manuel Gonçalves); mea culpa, mea culpa, mea culpa… Ámen (Igreja); tanta culpa (Misericórdias, autarquias e sociedades privadas proprietárias de praças de toiros); mea culpa, sem desculpas (Políticos); alguma culpa (Amadores); quase sem culpas (Forcados); culpas a cores e a preto e branco (Fotógrafos taurinos); completamente isentos de culpa (Campinos). Nem as moscas escapam à crítica já que, por mais estranho que possa parecer, também têm a sua culpa.
Segundo garante João Cortesão, “a crise na Festa é cíclica”, e tem a ver com o facto de actualmente não existir a chamada “figura de época”. Ou seja, alguém que chame o público e encha as praças. Mesmo apesar de, garante, “haver bons toureiros em Portugal”.
Só que actualmente, afirma João Cortesão, “não há apoderados que cuidem da imagem dos toureiros convenientemente”. E a este propósito refere o exemplo da imprensa espanhola, principalmente a “cor-de-rosa” ou de coração, onde todas as semanas saem notícias sobre os toureiros e respectivas mulher ou namoradas.
Em Portugal, pelo contrário, não há “picante”, afirma. É que, assegura, “numa praça de toiros cheia está provado que o número de grandes aficionados nunca ultrapassam os 30 por cento. Depois há os aficionados, simples, que vão ao toiro umas vezes mais outras menos e que são também 30%. E depois há os outros 40%, que são quem faz ganhar dinheiro, e que são o grande público, que se calhar se souberem do caso de um toureiro com uma cantora vão espreitar”.

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Livro
Amigos comentam
Facto curioso no livro de João Cortesão são os vários comentários de amigos e aficionados, alguns nomes bem conhecidos no mundo taurino. No final de cada crónica, todas elas ilustradas por Gonçalo Baptista de Almeida, encontram-se pequenos textos de, entre outros, José Cid, Duarte Nuno Vieira, o empresário Manuel Gonçalves, o forcado Simão Comenda, o ganadeiro David Ribeiro Telles e um dos nomes maiores do toureio espanhol, Angel Peralta. João Cortesão foi forcado, cavaleiro amador, apoderado e crítico taurino.

sábado, junho 10, 2006

MinervaCoimbra n'O Primeiro de Janeiro

José Tengarrinha lança livro sobre relação entre imprensa e opinião pública

Obra pioneira sobre a censura


Imprensa, opinião pública e censura são expressões chave do último livro de José Tengarrinha que consta de doze estudos sobre história do jornalismo, de 1641 ao Estado Novo. Uma obra que aborda aspectos relevantes da evolução da opinião pública em Portugal.

Paula Alexandra Almeida

«Imprensa e Opinião Pública em Portugal», da autoria de José Tengarrinha, editado pela MinervaCoimbra, é fruto de “uma investigação séria e qualificada de alguém a quem a história da imprensa muito deve”, afirmou na apresentação da obra Mário Mesquita.
O pioneirismo da obra prende-se muito com o facto das ciências da comunicação terem começado a desenvolver-se em Portugal muito em torno da perspectiva científica das ciências da linguagem, tendo a história sido marginalizada, e, por outro lado, os historiadores terem sempre encarado o jornalismo como um tema menor. Ora o livro preenche, segundo Mário Mesquita, as várias lacunas que existem.
Dos doze estudos que o constituem seis visam a imprensa, desde o surgimento dos periódicos no início do século XVII até à imprensa nas dinâmicas da sociedade oitocentista. Quatro estudos centram-se de forma explícita na problemática da opinião pública, culminando com a análise da imprensa e opinião pública no Estado Novo. E, finalmente, os dois capítulos restantes incidem sobre as instituições e a acção da censura, naquela que é, para Mário Mesquita, “a primeira visão de conjunto da censura à imprensa em Portugal, abarcando o período que vai das Ordenações Filipinas até ao fim do salazarismo”.
José Tengarrinha descreve “de forma clara, concisa e contextualizada, os institutos e os mecanismos de censura à imprensa”, referiu ainda Mário Mesquita.
Afirmar e tentar provar que os sistemas comunicacionais só ganham dimensão quando em relação com situações e espaços concretos ao longo da evolução das sociedades, isto é, em quadros históricos concretos, foi o grande objectivo deste trabalho de José Tengarrinha.
Quanto ao capítulo sobre os diversos regimes de censura, desde 1627 até 1974, foi, segundo José Tengarrinha, um trabalho muito duro e prolongado.
Segundo José Tengarrinha, e em relação ao Estado Novo, “as questões da censura têm sido vistas, a maior parte das vezes, no seu aspecto puramente repressivo”, o que tem feito com que “haja uma ideia de que o controlo do Estado Novo sobre os órgãos de informação se exerceu exclusivamente no aspecto impeditivo da saída de determinada informação”.
No entanto, na sua obra, José Tengarrinha revela a preocupação central do Estado Novo em controlar a informação também no aspecto de construção de opinião. “E isso julgo ter ficado claro quando faço uma longa relação dos jornais que eram publicados pelo país, das suas tendências políticas, e da forma como o Estado Novo pretendia influenciar a construção da opinião pública em todo o país através da produção de artigos e notícias emanadas do Serviço Nacional de Informação”.


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Blogosfera e jornalismo em discussão Potencial dos blogues mal aproveitado

’Podem os blogueiros ser equiparados a jornalistas?’ foi a questão que norteou um debate dedicado à blogosfera promovido pela Livraria Minerva, de Coimbra, e onde participaram António Granado e Rogério Santos.
Segundo Rogério Santos (Indústrias Culturais) “os blogues poderiam ser uma ferramenta de apoio ao jornalismo”, fazendo a sua promoção a custo praticamente zero, para além de não ficar alocado a um espaço físico restrito, o que não acontece com a edição impressa de um jornal, por exemplo.
Já para António Granado (Ponto Media) a característica mais marcante que a blogosfera trouxe à internet é a sua democratização. “Esta é uma ferramenta que permite que qualquer pessoa publique o que muito bem entender, como muito bem entender, num espaço gratuito, a qualquer momento e praticamente de todo o lado, desde o telemóvel ao computador. E esta é uma característica que transforma completamente os media”, afirmou.
Em relação à comparação entre blogues e jornais, António Granado considera que “há blogues especializados que são muito melhores que alguns jornais de referência”.
Apesar de em Portugal esta questão nunca se ter colocado, nos Estados Unidos a própria Casa Branca já credenciou alguns blogueiros para poderem assistir às conferências de imprensa. Os blogues surgiram por volta de 1997, mas em Portugal o boom deu-se apenas em 2003. Contudo, em 2000, António Granado já tinha o Ponto Media, enquanto Rogério Santos começou inicialmente num blogue colectivo, em 2002, iniciando o Indústrias Culturais, a solo, em 2003.
Segundo os últimos números a blogosfera duplica todos os seis meses e é criado um blogue por segundo no mundo. Cerca de 55 por cento dos blogues ainda são actualizados seis meses depois de terem sido criados.

sexta-feira, junho 09, 2006

Livro de José Tengarrinha apresentado em Coimbra



As Edições MinervaCoimbra lançaram na Casa Municipal da Cultura o livro de José Tengarrinha, “Imprensa e Opinião Pública em Portugal”, cuja apresentação esteve a cargo de Mário Mesquita, Director da Colecção Minerva Ciências da Comunicação, que esta obra integra.
E segundo Mário Mesquita, “Imprensa”, “Opinião Pública” e “Censura” são palavras-chave do livro de José Tengarrinha que consta de doze estudos situados na área da história do jornalismo. Desses estudos, sintetizou, seis visam especialmente a imprensa. Em “Assim nasceu o Jornalismo em Portugal” analisa-se o surgimento dos periódicos em Portugal no início do século XVII. A imprensa da emigração política, sediada em Inglaterra, sob o impulso dos exilados liberais é o tema abordado em “O Jornalismo da primeira emigração em Londres na formação de uma corrente de opinião liberal”; a que se seguem “Primeira Emigração Liberal e Pré-romantismo”, “O Jornalismo Romântico”, “A imprensa clandestina durante a guerra civil de 1846-1848” e ainda “A imprensa nas dinâmicas da sociedade oitocentista”.
Quatro desses estudos centram-se, de forma explícita, continuou ainda Mário Mesquita, na problemática da opinião pública. É o caso dos capítulos intitulados “A formação da opinião pública em Portugal”, “A opinião pública segundo Garrett” (acompanhado de comentários de Maria de Lourdes Lima dos Santos), “As crises ibéricas finisseculares, a opinião pública e a imprensa” e, por fim, “Imprensa e opinião pública no Estado Novo”.
Os dois capítulos restantes incidem sobre as instituições e a acção da censura. Neste aspecto merece especial realce o estudo “A Censura às Folhas Informativas (visão global)”, que Mário Mesquita considerou “a primeira visão de conjunto da censura à imprensa em Portugal, abarcando o vasto período que vai das Ordenações Filipinas até ao fim do salazarismo. Este conspecto possui o mérito de descrever de forma clara, concisa e contextualizada os institutos e os mecanismos de censura à imprensa. Desnecessário será enaltecer o valor pedagógico que possui, com vista à plena compreensão de sucessivas ordens censórias ao longo da História de Portugal”.
José Tengarrinha, por seu turno, destacou o facto de na obra abordar não apenas a censura enquanto acto limitativo, mas sobretudo a “tentativa de criação de «bloco de opinião nacional» ao serviço de interesses dos governantes”. Como exemplos, o historiador e ex-jornalista refere “o primeiro jornal português, que procura desenvolver uma «corrente de opinião» favorável à Restauração, contra a que os castelhanos tentavam promover, ou, em 1809, quando o objectivo do Governo era levantar o País contra os invasores franceses”.
A obra de José Tengarrinha abrange um longo período, percorrido em algumas das principais fases e questões emergentes, desde 1641 ao Estado Novo. “Os primeiros debates teóricos em Portugal sobre «opinião pública», a partir de propostas dos nossos escritores românticos, merecem igualmente atenção, ao mesmo tempo que se intenta compreender os novos aspectos evolutivos da Imprensa quando inserida nas dinâmicas da sociedade oitocentista”, refere ainda o autor.
José Tengarrinha é Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e tem publicada uma vasta obra em Portugal e no estrangeiro no domínio da História e das Ciências Sociais. Na bibliografia sobre a história da imprensa portuguesa refira-se “História da Imprensa Periódica Portuguesa”, 2ª ed., 1989 e “Da Liberdade Mitificada à Liberdade Subvertida. Uma exploração no interior da repressão à imprensa periódica de 1820 a 1828”, 1993.

Podem os blogueiros ser jornalistas?


A blogosfera foi o tema da última sessão da Terça-Feira de Minerva, com a participação de António Granado, do Ponto Media (Ponto Media), e Rogério Santos, do Indústrias Culturais (Indústrias Culturais).
Segundo Rogério Santos, “os blogues poderiam ser uma ferramenta de apoio ao jornalismo”, fazendo a sua promoção a custo praticamente zero. E esta é uma das principais atracções da blogosfera. Há ainda a vantagem de um blogue não ficar alocado a um espaço, permitindo a sua leitura em vários locais do globo – como qualquer página de internet –, o que não acontece com a edição impressa de um jornal, por exemplo. O debate entre o que é o jornalismo e o que são os blogues é, aliás, um tema que tem sido muito abordado em várias discussões sobre a blogosfera.
Mas para António Granado a característica mais marcante que a blogosfera trouxe à internet e a sua democratização. É uma ferramenta que permite que qualquer pessoa publique o que muito bem entender, como muito bem entender, num espaço gratuito, a qualquer momento e praticamente de todo o lado, desde o telemóvel ao computador. E esta é uma característica que transforma completamente os media.



Em relação à comparação entre blogues e jornais, António Granado considera que há blogues muito melhores que alguns jornais de referência, para ler sobre determinados temas. Daí que defenda que os autores desses blogues têm todo o direito de ter as protecções que dizem respeito ao exercício da profissão de jornalista. Há inclusive jornais que picam algumas das suas notícias em blogues especializados em determinados temas.
Em Portugal a questão nunca se colocou, mas nos Estados Unidos a própria Casa Branca já credenciou alguns autores de blogues para poderem assistir às conferências de imprensa.
Convém no entanto recordar que os blogues são utilizados apenas por uma minoria da população, tal como a própria internet. Os blogues surgiram na década passada, por volta de 1997, mas em Portugal o boom dá-se em 2003. Contudo, em 2000, António Granado já tinha o seu blogue, Ponto Media. Rogério Santos recordou o seu início na blogosfera, inicialmente num blogue colectivo, em 2002, iniciando o Indústrias Culturais, a solo, em 2003.
Refira-se apenas a título de curiosidade que segundo os últimos números a blogosfera duplica todos os seis meses e é criado um blogue por segundo no mundo. Cerca de 55 por cento dos blogues ainda são actualizados seis meses depois de terem sido criados.

quinta-feira, junho 08, 2006

Lançamento do livro de José Tengarrinha, em Lisboa

Realizou-se ontem em Lisboa o lançamento do livro "Imprensa e Opinião Pública em Portugal", de José Tengarrinha, com apresentação de Mário Mesquita.

Aqui deixamos algumas fotos da sessão.










Blogosfera no Público

"Os blogues democratizaram a Web e quebraram as restrições dos media"

Em todo o mundo o número de blogues duplica de seis em seis meses e, em cada segundo, um novo blogue é criado. Apesar dos números impressionantes, a blogosfera é ainda um espaço marginal para o universo de utilizadores da Internet e estes são uma pequena parte quando comparados com o número de pessoas que não acedem à Web. Que razões explicam então a enorme visibilidade alcançada pelos blogues e que os tornou alvo da cobiça de empresas em busca de novos espaços para publicidade?
Na opinião de António Granado, chefe de redacção do PÚBLICO e docente na licenciatura em Jornalismo da Universidade de Coimbra, a grande característica inovadora que os blogues introduziram foi a "democratização da Web" e a possibilidade de "qualquer pessoa publicar o que entender, quando entender". Já Rogério Santos, docente de Comunicação Social e Cultural na Universidade Católica Portuguesa, prefere realçar a enorme especialização atingida pelos blogues, que os levou a assumirem-se como "fontes complementares dos media tradicionais".
O fenómeno de expansão e visibilidade dos blogues foi um dos pontos que marcaram a "Reflexão em torno da Blogosfera", promovida terça-feira à tarde pela Livraria Minerva, em Coimbra, e que juntou na mesma mesa os autores dos blogues Ponto Media (António Granado) e Indústrias Culturais (Rogério Santos).
Insistindo na característica "democrática" dos blogues em contraste com a "inacessibilidade" e as "restrições" impostas pelos meios de comunicação tradicionais, António Granado defendeu que a visibilidade alcançada pela blogosfera não vai esmorecer. "É uma ferramenta que permite que qualquer pessoa publique o que bem entender, quando bem entender, praticamente de todo o lado. Já existem telemóveis que permitem fazer publicação de posts.
Este é o único media onde os utilizadores têm uma liberdade total e espaço gratuito para publicar", afirmou.
Rogério Santos comparou o movimento de expansão da blogosfera ao da rádio no início do século XX, um movimento, sublinhou, de "progressiva proliferação de um meio ou ferramenta das elites até à população em geral".
Será este processo de expansão que irá definir o impacto que a blogosfera poderá assumir, embora os primeiros sinais sejam já visíveis: "Os blogues estão a adquirir uma faceta comercial e de potencial económico que as empresas estão a descobrir e que vai acrescentar-se ao lado lúdico que já possui."
Segundo António Granado, existem, no estrangeiro, empresas que observam blogues para encontrar novos espaços publicitários, uma tendência que considera ser natural na medida em que diversos blogues são referências em determinadas áreas de conhecimento. "Os blogues têm grande potencial económico porque muitos se tornaram verdadeiros faróis. Os autores
mostraram que sabiam escrever sobre determinado assunto e hoje há blogues que são muito melhores sobre determinadas matérias do que o PÚBLICO ou a SIC Notícias", defendeu.

André Jegundo

Ainda a apresentação do livro de José Tengarrinha, em Lisboa

aqui

Lançamento em Lisboa do livro de José Tengarrinha




Aqui fica um pequeno vídeo da sessão de lançamento do livro "Imprensa e Opinião Pública em Portugal", de José Tengarrinha, mais uma vez gentilmente enviado por Rogério Santos (Indústrias Culturais).

quarta-feira, junho 07, 2006

Livro de Tengarrinha no Indústrias Culturais

aqui

Blogues deram mote a mais uma Terça-Feira de Minerva



Enquanto não vem o relato pormenorizado, aqui fica um vídeo da participação de António Granado
(Ponto Media) realizado e cedido por Rogério Santos (Indústrias Culturais), o outro convidado.

"Imprensa e Opinião Pública em Portugal" no Público

Da "Gazeta" de 1641 ao "Século" de 1974
A opinião pública em Portugal, segundo José Tengarrinha
António Melo

Autor de história da imprensa portuguesa, tida como referência, fala da formação da opinião crítica na nossa sociedade

O historiador José Manuel Tengarrinha lança hoje a sua obra Imprensa e Opinião Pública em Portugal, onde analisa as fases da formação de uma opinião crítica na sociedade portuguesa. A análise vai desde o primeiro periódico, a Gazeta, publicado em 1641, aos jornais do final do Estado Novo, com a democracia de Abril de 1974 à beira da esquina. O livro será apresentado pelo jornalista Mário Mesquita, às 18h30, no El Corte Inglês, em Lisboa.
Desde 1960 que Tengarrinha se ocupa com a história da imprensa em Portugal, um trabalho que quer concluir dentro de dois ou três anos, com a edição da Nova História da Imprensa Portuguesa, obra que completará o anterior estudo, publicado na sempre recordada Portugália Editora, que se terminava na I República.
Este levantamento histórico foi complementado, a partir de 1970, com a análise dos gostos de leitura, com que deu início a uma nova abordagem sociológica dos media em Portugal. É disso que trata o livro que hoje vai ser apresentado em Lisboa, "do que se pode designar por espaço público mediatizado", dos seus meios, contextos e efeitos, diz o autor.
Tengarrinha frisa "a intenção" de se desviar de "uma certa tendência em abordar os sistemas comunicacionais abstractizantes", dotados de "uma lógica interna perfeita", mas que se consomem nesse formalismo. "Julgo que é necessário submeter esses sistemas à perspectiva histórica", diz o catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sublinhando que embora, "a essência da comunicação social seja possibilitar o diálogo e a troca de mensagens", a realidade implica que em sociedade esse diálogo se processe num contexto e num espaço que é o do quadro histórico. De outro modo, os cenários, embora perfeitos, "não nos permitem compreender como se desenvolveram os sistemas comunicacionais até atingirem a configuração que têm hoje".
Daí a organização do livro em capítulos que correspondem às quatro fases da formação de uma opinião pública mediatizada na nossa história. A primeira corresponde à formação do regime liberal (1820). A segunda corresponde ao período dos grandes confrontos na sociedade liberal (1840). A terceira ocupa-se das turbulências políticas após o Ultimatum britânico, no fim do século XIX. A quarta fase estuda "a falência da República e o advento do Estado Novo".
Na concepção de Tengarrinha, o espaço público, enquanto opinião pública crítica em formação, define-se, historicamente, em três períodos. O primeiro, com o objectivo de criar um "bloco de opinião", serve os interesses institucionais do poder político, de natureza absolutista, mesmo se ele está em fase de instalação. O exemplo desse esforço é a Gazeta, que saiu em Novembro de 1641 e tinha por finalidade, como se diz no frontispício, relatar "as novas todas, que houve nesta corte e que vieram de várias partes".
Editou-se em pleno esforço restaurador da independência portuguesa, com o novel D. João IV a ter que se afirmar como monarca de Portugal.
O segundo período corresponde ao da extinção do absolutismo, em que o poder, perante a ameaça das invasões napoleónicas, concedeu autonomia ao espaço público. Com ele se confrontou o poder militar de Junot, e que acabou por ser por ele derrotado - com a ajuda militar inglesa. Esta autonomia, com sobressaltos diversos, manteve-se durante todo o século XIX e atingiu um paroxismo na década de 1890, com o protesto nacional ao "humilhante" Ultimatum inglês, que culminou no primeiro levantamento republicano, no Porto, a 31 de Janeiro de 1891.
O terceiro período, analisado nesta obra, corresponde ao do Estado Novo. Nota Tengarrinha que o regime corporativo, na falta de um partido de massas que moldasse a opinião pública, recorreu à formação desse espaço público submisso através de um "bloco autoritário", cujos canais seriam os mass-media, ou grandes meios difusores, como a imprensa, a rádio e, a partir da década de 1950, a televisão, todos eles submetidos a uma orientação censurada. A constituição deste período decorreu, com relativo êxito, de 1936 até ao final da II Guerra Mundial, em 1945. Mas a partir daí foi perdendo influência devido à formação de um outro espaço público, oposicionista, que influenciava a (sua) opinião pública pela imprensa clandestina.
A interpretação da relação interactiva entre a imprensa e a opinião pública, no contexto das novas tecnologia de informação, é um tema apenas abordado nesta obra, mas sobre o qual Tengarrinha tem um juízo em formação. Cita Chomsky, quando este linguista e activista liberal norte-americano pergunta se a imprensa é ainda a solução para a democracia em regimes autoritários e salvaguarda da liberdade em regimes democráticos. A pergunta esconde, obviamente, o controlo dos media pelos poderes instituídos, não só os do Estado, mas os socioeconómicos, que detêm o controle crescente dos grandes media de difusão.
A sede de liberdade parece ser, contudo, um elemento constitutivo das sociedades e essencial ao indivíduo, que a cada passo descobre meios de iludir esta totalitarização do espaço público. O recurso crescente aos meios informais que proporciona a Internet, mesmo sendo este um sistema globalizante, são um exemplo a estudar, diz José Tengarrinha.

terça-feira, junho 06, 2006

domingo, junho 04, 2006

Lançamento em Penafiel


As Edições MinervaCoimbra numa iniciativa da Câmara Municipal de Penafiel promoveram ontem uma sessão de apresentação do livro O RECONFORTO DA TELEVISÃO. UMA VISÃO DIFERENTE DA TRAGÉDIA DE ENTRE-OS-RIOS, de DANIELA SANTIAGO (jornalista da RTP).

A apresentação esteve a cargo de Paulo Teixeira, Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Paiva.




"Daniela Santiago a partir do envolvimento em que se viu metida neste acontecimento como repórter de televisão, mas no duplo papel de autora de uma tese de um curso de mestrado que frequentava, encetou uma via difícil, quiçá perturbante e polémica. Foi à busca de uma interrogação que pôs a si própria: Poderá a televisão, ou a reportagem televisiva, em situações de tragédia humana, desempenhar uma função de reconforto junto das vítimas e familiares envolvidos no acontecimento?

A autora pretende provar que «apesar de todas as críticas acerca do trabalho dos jornalistas» a comunicação social «desempenhou um papel extremamente importante para a população local». E quer confirmar de alguma maneira, esta hipótese, pelo perscrutar dos muitos depoimentos que ouviu e pela observação directa que fez em pleno desenvolvimento da desgraça que atingiu aquela população. Daniela Santiago quer «comprovar que a televisão pode ajudar a superar momentos de dor, sofrimento e mesmo isolamento exercendo função de reconforto».

Caberá ao leitor avaliar o conhecimento que este texto lhe traz, uma vez que este livro, agora editado e divulgado pela MinervaCoimbra, - como diz a própria autora - tem uma finalidade em especial: fazer sentir ao grande público a tragédia de 4 de Março de 2001, acontecida em Entre-os Rios, e tentar contribuir para que as pontes que se constróem, onde quer que seja, jamais se abatam pela incúria dos homens."


José Manuel Paquete de Oliveira, no Prefácio.

quinta-feira, junho 01, 2006

TERÇA-FEIRA DE MINERVA

DEBATE-REFLEXÃO
SOBRE A BLOGOSFERA



António Granado
(Ponto Media)

Rogérios Santos
(Indústrias Culturais)



Terça-Feira
6 de Junho
18h30
Livraria Minerva
Rua de Macau 52 (Bairro Norton de Matos), em Coimbra


Iniciativa conjunta:
Livraria Minerva
Instituto de Estudos Jornalísticos da FLUC
Área de Ciências de Comunicação, das Organizações
e dos Media da ESEC

Sessões de lançamento do novo livro de José Tengarrinha

7 de Junho
El Corte Inglés, Lisboa





8 de Junho
Casa Municipal da Cultura, Coimbra




Este é o 7.º volume da colecção Minerva Ciências da Comunicação dirigida por Mário Mesquita.


"A formação do espaço público mediatizado em Portugal na sua relação com o desenvolvimento da opinião pública é o tema dominante dos estudos agora reunidos, quer os de natureza teórica quer os que incidem sobre casos concretos, uns e outros visando preencher áreas menos conhecidas da história da comunicação no nosso país.
Antes mesmo da formação da opinião pública em Portugal – que constitui o tema do capítulo de abertura – não deveríamos deixar de considerar como, desde tempos recuados, a Imprensa visou formar opinião favorável a determinados objectivos políticos, ainda que em círculos limitados da sociedade. Neste caso, não se tratava, pois, da formação complexa de “espaço de opinião”, onde livremente se confrontassem ideias, mas da tentativa de criação de “bloco de opinião nacional” ao serviço de interesses dos governantes. É o que se vê com a fundação do primeiro jornal português, que procura desenvolver uma “corrente de opinião” favorável à Restauração, contra a que os castelhanos tentavam promover, ou, em 1809, quando o objectivo do Governo era levantar o País contra os invasores franceses. Também na crise de 1890 são intuitos de defesa da Pátria os que movem a Imprensa, embora com a diferença fundamental de, então, se tratar de um espaço público autónomo relativamente ao Poder.
Abrange-se um longo período – que percorremos em algumas das principais fases e questões emergentes – desde 1641 ao Estado Novo.
A compreensão destes desenvolvimentos exigia previamente uma visão global, simultaneamente informativa e interpretativa, do quadro censório das folhas informativas, desde as origens em 1627 ao 25 de Abril de 1974.
Os primeiros debates teóricos em Portugal sobre “opinião pública”, a partir de propostas dos nossos escritores românticos, merecem igualmente atenção, ao mesmo tempo que se intenta compreender os novos aspectos evolutivos da Imprensa quando inserida nas dinâmicas da sociedade oitocentista.
Entre outros temas trata-se, por fim, da questão da Opinião Pública no Estado Novo, tanto integrada na sua Política de Informação, como nos desenvolvimentos teóricos, não coincidentes, dos seus dois presidentes dos Conselhos de Ministros". — José Tengarrinha


José Tengarrinha nasceu em Portimão, em 1932. Doutorado em História é Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
É ainda Presidente do Centro Internacional para a Conservação do Património (CICOP – Portugal), com sede mundial em La Laguna (Tenerife), Presidente do Instituto de Cultura e Estudos Sociais, sediado em Cascais e Director dos Cursos Internacionais de Verão realizados todos os anos em Cascais desde 1992.
Ganhou o Prémio da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto em 1962.
Criou, dirigiu e leccionou mestrados, em Portugal, nas áreas da História Contemporânea, História Moderna, História do Brasil, História da Imprensa Periódica, História Regional e Local, Cultura e Formação Autárquica, tendo orientado, nessas áreas, numerosas teses de mestrado e doutoramento. Leccionou em cursos e seminários de doutoramento em Universidades estrangeiras, como Florença, Pescara, Bolonha, Paris VII, Nantes, Valladolid, Bilbao, Autónoma de Barcelona, Carlos III de Madrid, Sevilha, Canárias, École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, entre outros. Professor visitante da Universidade de São Paulo, para cursos de pós-graduação, em 1997.
Tem publicadas numerosos obras em Portugal e no estrangeiro no domínio da História e das Ciências Sociais com destaque para Movimentos Populares Agrários em Portugal – 1750-1825 (tese de doutoramento), 2 vols., 1994, História do Governo Civil de Lisboa, 2 vols., 2002; e, no Brasil (São Paulo), A Historiografia Portuguesa, Hoje, 1999, Historiografia Luso-Brasileira Contemporânea, 1999, História de Portugal, 2ª ed. 2001. Na vasta bibliografia sobre a história da Imprensa portuguesa refira-se História da Imprensa Periódica Portuguesa, 2ª ed. 1989 e Da Liberdade Mitificada à Liberdade Subvertida. Uma exploração no interior da repressão à imprensa periódica de 1820 a 1828, 1993.


Quites, Detalhes e Puyazos no Campeão das Províncias

Ganadarias do Baixo Mondego ferram os primeiros animais desde 1992
Sem fazer guerra nem sombra a ninguém
Paula Alexandra Almeida

São cinco ganadarias registadas na Associação de Criadores de Toiros de Lide do Baixo Mondego. Aos poucos, a tradição regressa à região. Aos poucos, as características garraiadas das festas de Verão das vilas ribeirinhas começam a usar toiros “da casa”. Aos poucos. E sem fazer sombra a ninguém.
Escreve João Cortesão no seu livro “Quites, Detalhes e Puyazos”, que “Montemor com as suas lendas e lembranças históricas é capital do Baixo Mondego, zona de gene aficionada com uma dimensão de amores à ‘festa’, tantas vezes traída e maltratada pela maioria de agentes taurinos que para aqui têm migrado, mas que mantém com desmedida perseverança o acreditar sempre no provir de tais artes e tradições”. Mais. “Há povoações nesta região que dão seis e sete espectáculos taurinos, embora menores, durante as suas festas”, continua.
Cortesão recorda mesmo uma forma de agarrar os toiros típica da região, “muito peculiar, que consistia em cruzar dois paus embicados no chão, fazendo com que o toiro ali investisse, aguentando de seguida a marrada, para depois dominarem o animal”.
Talvez por tudo isto, não surpreenda que os toiros de lide estejam a regressar aos campos do Mondego. Isidro Ricardo é ganadeiro no Baixo Mondego há 6 anos e um dos mais recentes. Fundou, com mais quatro criadores a Associação de Criadores de Toiros de Lide do Baixo Mondego. De fora ficaram apenas duas ganadarias que não se juntaram ao grupo. No dia 24 de Maio ferraram as primeiras vacas desde 1992. Precisamente as de Isidro Ricardo. “Fui por acaso o primeiro. Alguém tinha que começar”, afirma. Mas não terá sido por acaso. O empenho, nestas coisas, como em quase tudo na vida, conta muito.
“Tenho 32 vacas ferradas mas a manada é maior”, revela. Só que “algumas já não ferrei porque apercebo-me, apesar do pouco que sei do toureio, que não têm as condições de lide necessárias”.
Porque o que se quer ali, no Baixo Mondego, é toiro bravo. Nem mais. Nem menos. “O que temos ali é uma vaca brava, não é uma cruzada de carne”, assegura, referindo-se a uma vaca que depois de uma lide procura o merecido descanso apesar do nervosismo à flor da pele. “Mas se formos ver o bilhete de identidade dela, está lá escrito que é uma cruzada de carne. Acho que é uma injustiça”.
Isidro Ricardo defende mesmo que se façam testes de ADN ao gado do Baixo Mondego, para se ver se é ou não bravo. É que, “se não for bravo também não nos convém ter. Somos claros. Não podemos ter aqui um gato e dizer que temos cá uma lebre”.
O reconhecimento é difícil, tal como foi difícil a criação da associação. “Tivemos uma luta tremenda para conseguir”, recorda Isidro Ricardo. “Não conseguíamos entrar na criação de toiros”. O processo demorou três anos – “foi o período em que nos associámos, fizemos algumas reuniões até que há dois anos conseguimos realizar a escritura”. O empurrão necessário surgiu com o actual director regional da Agricultura, “dinâmico e disposto a ajudar-nos a levar isto para a frente”, reconhece agradecido o ganadeiro.
Ao todo, no Baixo Mondego, as cabeças de gado para ferrar devem rondar as 200. Com estas, garante Isidro Ricardo, “temos condições criadas para poder fazer no Mondego algo diferente do que se fazia até aqui”.
Pouco a pouco, este grupo de homens procura recuperar a tradição. “Foi aqui que, vindos do Norte, os toiros se implantaram. Não para tourear mas para lavrar os nossos campos”. O Alentejo e o Ribatejo, afirma Isidro Ricardo, “não tenho dúvidas, têm condições muito superiores para criar toiros de lide”. Mas, assegura, “nós, também por sermos mais pequeninos e com áreas mais condicionados, temos condições para ter os nossos toiros com características próprias”.
Não terão as características do toiro daquelas regiões que nasce, vive cinco anos e só vê o maioral. “Os nossos, no Mondego, não são assim. No dia em que nascem vêem quatro ou cinco agricultores a passarem-lhes ao lado. Vivem com eles, mas quando chegam à praça também sabem marrar, melhor ou pior, com mais pata ou com menos pata”.
E a prová-lo estão as vacas de António Reis, ganadeiro desde 1973, e que na próxima segunda-feira ferrará cerca de 20 das 70 cabeças que possui. António Reis faz criação para vender e para novilhadas.
O amor e o orgulho que tem nos animais perpassa nas palavras e no olhar quando fala deles. “Logo quando eu nasci o meu pai agarrou em mim e foi-me mostrar as vacas que, naquela altura, passavam a noite no pátio da casa”.
Mas “não se podem ter toda a vida”, reconhece. “Corri três novilhos na Figueira, saíram espantosos, arrumei-os. Tenho mais cinco vendidos a um amigo de Vilar Formoso que devem seguir já no fim do mês. E tenho ainda um outro para Ponte de Lima, onde já vou há três anos”.
E Isidro Ricardo garante: “Que os criadores de toiros de lide do Ribatejo e do Alentejo não tenham problemas. Que colaborem connosco que nós estamos disponíveis para colaborar com eles. Não queremos fazer guerra nem sombra a ninguém”.

MinervaCoimbra edita crónicas de João Cortesão
O ‘mundillo’ visto à lupa

Não pense o leitor que a autora deste texto é aficionada. Nem sou, nem deixo de ser. Nunca vi uma corrida ao vivo, nem tão pouco no ecrã. E também nunca estive perto de um toiro, desses, de 600 e tal quilos. Deles só sei que não são mansos. Até conhecer o João Cortesão pensava, ingenuamente, que o vermelho ou o rosa choque tinham influência na atitude dos ditos cujos. Só agora percebo que tem tudo a ver com o movimento do capote. Está a rir-se? Sabia por exemplo que há toiros míopes ou com estigmatismo? E que isso tem influência na forma como reagem e avançam aos tropeções, ou não, pela praça em direcção a quem os desafia? Pois eu não. Sou verdadeiramente uma ignorante da ‘festa’ e por isso, felizmente, não tenho culpas. O que, acredite, depois de ler “Quites, Detalhes e Puyazos” é um alívio.
Escalpelizar cada um dos agentes da festa, para que cada um dos leitores possa chegar à conclusão de quem são as culpas da crise que a abala, foi o objectivo de João Cortesão ao escrever este conjunto de crónicas que, como referiu e bem Ana Paula Arnaut na sessão lançamento que decorreu no castelo de Montemor-o-Velho, bem poderiam chamar-se “farpas”.
Com efeito, em todas as crónicas de “Quites, Detalhes e Puyasos”, chama particular atenção o subtítulo. “Fazendo, regra geral, variações de tom e de cor e, por consequência, de grau, de intensidade, em torno do substantivo culpa, João Cortesão consegue apontar, desde logo, e de modo muito incisivo – numa farpa muito bem aplicada – quer o seu posicionamento (e também as suas afectividades) perante as personagens que constituem matéria das suas crónicas quer a quota-parte de responsabilidade na crise da Festa que julga existir em cada um dos grupos intervenientes”.
São vários os exemplos: “mea culpazinha (Aficionadas); mea culpa e mea (Aficionados); culpa e mea (Empresários); grandes culpas (Figueira da Foz versus Sr. Manuel Gonçalves); mea culpa, mea culpa, mea culpa… Ámen (Igreja); tanta culpa (Misericórdias, autarquias e sociedades privadas proprietárias de praças de toiros); mea culpa, sem desculpas (Políticos); alguma culpa (Amadores); quase sem culpas (Forcados); completamente isentos de culpa (Campinos)... Até mesmo as moscas, por mais estranho que possa parecer, têm a sua culpa”.
Culpa diferente da dos empresários, da dos directores de corrida, ou dos políticos, é certo, “mas é justamente por isso que varia a intensidade do tom, bem como o grau de mágoa, de desalento ou de ironia com que se fala, ou melhor, se escreve”.

Pouco “picante”

“A crise na Festa é cíclica”, garante João Cortesão, e tem a ver com o facto de actualmente não existir a chamada “figura de época”. Isto é, “um tipo que encha as praças”.
Claro que há bons toureiros em Portugal, mas, recorda João Cortesão, “quando foi a rivalidade Núncio-Simão, enchiam-se as praças. Quando foi a rivalidade Baptista-Luís Miguel e mais tarde Baptista-Zoio, enchiam-se as praças. Quando foi a rivalidade Zoio-Moura, enchiam-se as praças”.
Está o problema então na falta destas rivalidades que passavam do particular para o público? Também, mas não só. Actualmente “não há apoderados que cuidem da imagem dos toureiros convenientemente”, garante João Cortesão. Veja-se a propósito o exemplo da imprensa espanhola, principalmente a “cor-de-rosa” ou de coração. Não há semana que não traga o seu toureiro com a sua mulher ou namorada(s), amorosos ou em divórcio litigioso, de compras por Paris ou simplesmente aos beijos nalguma idílica praia tropical, ou em plena lide com a senhora na bancada mostrando cara angustiada ou até escondendo-se atrás do leque.
Em Portugal, pelo contrário, não há ‘picante’. “Imagine-se um caso entre um toureiro e uma cantora pimba. Já viu o que era? Toda a gente ia à corrida só para os ver”, refere João Cortesão.
É que, assegura, “numa praça de toiros cheia está provado que o número de grandes aficionados nunca ultrapassam os 30%. Depois há os aficionados, simples, que vão ao toiro umas vezes mais outras menos e que são também 30%. E depois há os outros 40%, que são quem faz ganhar dinheiro, e que são o grande público, que se calhar se souberem do caso do toureiro com a cantora vão espreitar”.
Em todo o caso, e aproveitando de novo as palavras de Ana Paula Arnaut, “de uma maneira ou de outra, em tom mais ou menos eufórico ou em cores mais ou menos sombrias, a verdade é que este conjunto de textos só podia ter sido escrito por alguém que se preocupa, de facto, com a Festa e com os seus intervenientes; alguém que procura a verdade, ou procura repor a verdade; alguém que, em suma, por isso, queira ver denunciadas injustiças de índole diversa”.