sexta-feira, abril 07, 2006

Serão de poesia na Minerva



As Edições MinervaCoimbra apresentaram duas novas obras da Colecção Poesia Minerva. Trata-se de “Dois dias e um serão no Inferno”, da autoria de Delfim Leão, e “Sólon: Estadista, Poeta e Sábio”, com tradução também de Delfim Leão e o apoio do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da FLUC.


Apresentado por José Carlos Seabra Pereira, “Dois dias e um serão no Inferno” confirma um processo de desdobramento da criatividade poética de Delfim Leão, mas também uma evolução para um grau superior de realização estético-literária. Mas o que há de mais surpreendente nesse processo de evolução, segundo Seabra Pereira, “é que me parece que não é a forma de evolução mais comum”. Os poetas parecem realizar um caminho de maturação contínua, mas Delfim Leão tem “surpreendido”, porque “há uma sensação de estranheza porque a evolução apresenta uma certa descontinuidade”, em relação aos dois livros anteriores.


Além deste aspecto, este livro vem confirmar, “apesar do título tão quente”, que Delfim Leão “não faz um convite a qualquer vício de voyeurismo” já que se torna logo patente que o poeta tem concepção intelectualista.
Para Seabra Pereira, os poemas de “Dois dias e um serão no Inferno” só merecem ser lidos “por um leitor que perceba que não pode curar da sinceridade emotiva do autor, mas da autenticidade artística da obra”.


José Ribeiro Ferreira, por seu turno apresentou a obra “Sólon: Estadista, Poeta e Sábio”, que reúne fragmentos poéticos do autor clássico grego. Segundo o professor, Delfim Leão tem centrado a sua investigação no âmbito do Direito grego, onde se inclui Sólon, mas também no âmbito do drama e na defesa das línguas clássicas.


Sólon é, neste caso, um dos dois autores – juntamente com Petrónio – que têm dominado a carreira de investigador de Delfim Leão, cujas traduções têm sido “versões, exactas, escorreitas, rigorosas, fiéis, vivas, elegantes e fluentes”, segundo afirmou Ribeiro Ferreira. Qualidades também presentes nesta obra.
Numa primeira parte do livro, o tradutor aborda os principais problemas suscitados pela obra poética de Sólon e a escassez desse corpus poético que chegou aos nossos dias. “Material muito importante para estudar quer a obra do autor, quer a época”, referiu o apresentador.
Numa segunda parte, então, são reproduzidos os fragmentos poéticos de Sólon, “um poeta que sabe aproveitar de forma original a tradição, e que se distingue pela vivacidade das suas metáforas”.


A encerrar a sessão, Delfim Leão salientou a sua “abordagem cerebral” da escrita, revelando que não escreve poemas avulso, que depois reúne em colectânea, mas sim escreve um livro como unidade, seguindo uma série de passos. Daí que a primeira chave para a leitura dos seus livros seja o próprio índice. Este é, ainda segundo o autor, “o derradeiro livro de poesia”, já que não pensa escrever mais, antecedendo, no entanto, a escolha de outros estilos.

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